sábado, 18 de outubro de 2008

Primeira postagem na MINHA página Branca

Graças a minha grande dificuldade de expor oq penso, resolvi tentar aqui dizer (ou teclar) o que penso sobre algumas coisas - que mesmo eu sendo crítica³ - não consigo espressá-las facilmente.
Pra esse primeiro post eu não tenho muito assunto, então resolvi colocar um texto do Arnaldo Antunes que eu li ontem e amei. Nesse texto ele é bem crítico e eu sou completamente a favor do grande senso crítico das pessoas. Às vezes esse senso acaba sendo grosseiro, mas com educação tudo se resolve!
Gente sem um grande sendo crítico acaba engolindo tudo o que é lhe dado pra consumo, tanto que hoje em dia é confudido facilmente pessoas amáveis e doces com pessoas que nunca falam o que pensam. E é por causa da construção de pessoas assim - amáveis - é que as coisas (o mundo, no seu mais amplo conceito pessimista) estão como estão.
Hoje em dia, parece que tudo tem que ser como está. Sempre! Se for pra evoluir, que seja apenas tecnologicamente e que as pessoas amem cada dia mais as outras. Alguém notou que quando alguns ouvem isso parece que quer dizer: "diga a todos que vc conhece o quanto vc os ama"?
Enquanto isso, haja paciência pra tanto conformismo!!!



"Eu apresento a página branca.

Contra:
Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intensões insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca água onde não há sede
água em abundância
água em excesso água em palavras.

Eu apresento a página branca.

A árvore sem sementes.

O vidro sem nada na frente.

Contra a água."
Arnaldo Antunes

 
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